Minha questão é saber como o ser humano pode viver melhor, e isso só a filosofia é capaz de responder...
"
Como os gregos, nós hoje achamos que uma vida mortal bem-sucedida é melhor que ter uma imortalidade fracassada, uma vida infinita e sem sentido. Buscamos uma vida boa para quem aceita lucidamente a morte sem a ajuda de uma força superior." (Luc Ferry)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Mensagem de Natal 2011

"[…] sabedoria para chegar aonde alguns já chegaram, um lugar de ritmo mais lento, de saborear verdadeiramente a vida, de simplificar as coisas."

Esse desejo de uma amiga é também um sonho bom que devemos e podemos realizar. Se a sabedoria é inalcançável, parece haver entretanto sábios. Pessoas que sabem que a sabedoria é inalcançável, e que é apenas um caminho, difícil e longo a trilhar. (antes que façam piada, vai sem dizer, eu não me incluo obviamente entre eles, e estou muito longe disso, preso que sou às limitações de minha humanidade).

Essa amiga pergunta em sua mensagem de Natal: o que viemos fazer neste nosso mundo, afinal?

Respondi então a ela que eu acredito que vivemos pelo mais extremo acaso; que algo que não pedimos e que mesmo assim obtemos é o que chamamos uma "graça", e é o que é a nossa vida: uma graça. A mais preciosa!  falei também já que estamos aqui e existimos por alguns anos, que seja esse um tempo alegre. De uma alegria atenta (alerta mesmo), sobretudo para com o outro: uma alegria amorosa.
A esse propósito citei L. Boff se referindo à ética (do amor):
"O ethos que ama funda um novo sentido de viver. Amar o outro é dar-lhe razão de existir. Não há razão para existir. O existir é pura gratuidade. Amar o outro é querer que ele exista, porque o amor faz o outro importante. Amar uma pessoa é dizer-lhe: tu não morrerá jamais (Gabriel Marcel). Quando alguém se faz importante para o outro, nasce um valor que mobiliza as energias vitais. É por isso que, quando alguém ama, rejuvenesce."

E a mensagem dessa amiga continuava "[…]Não acho que a prioridade tenha que ser o lazer, mas é um item considerável. Acho que dependemos de $$ para sobreviver, mas, então, que o trabalho necessário para consegui-lo seja prazeroso, mas não o único prazer na vida e, muito menos que o $$ seja o único prazer. Espero conseguir equilibrar minhas atenções a mim, ao marido, aos filhos, aos amigos, ao trabalho, ou seja, espero aprimorar em muito o jogo de cintura que tenho tentado ter, pois, afinal, equilibrar não é ficar estático, mas oscilar para não cair."

Ser capaz de encontrar ou descobrir esse prazer em nosso trabalho significa, pelo menos para mim "informático", antes entender melhor o que é o computador. Daí escrevi o texto que segue abaixo, e compartilho com vocês.

No mais eu queria agradecer a todos vocês pelos abraços e pelas mensagens de atenção e carinho quando da perda de meu pai em novembro último e também dizer que: fundar o sentido de minha vida nesse ethos (descrito acima por L. Boff) é o que eu acho que todo o mundo mais precisava nesse início do Século XXI. Como este é o meu desejo para mim mesmo (embora me veja tristemente limitado para realizá-lo profundamente) é também o que desejo para todos vocês; que possamos viver esse ethos, meus companheiros de trabalho, neste Natal!

Abraços,
Marcello P. Bax


O computador

O que é o computador? Muitas coisas, mas antes de tudo é um artefato; uma construção nossa.
E como todo artefato - objeto não natural - ele é também uma projeção do nosso Ser, natural.
Nós nos projetamos neles e eles nos projetam a nós mesmos, nossa natureza, de volta.
E isso é importante porque permite entendermo-nos melhor, por meio daquilo que é a nossa criação (do homem).
Perceba como uma cadeira, outro artefato humano, tem sua ergonomia própria como uma adaptação ao nosso corpo, que é o que é, que dobra do jeito que dobra.

O que ele, o computador, tem de especial em relação aos outros artefatos?
Me agrada pensar que, como todos os outros, ele nos retorna a nós mesmos, como que um espelho; mas, diferente de uma cadeira, ele o faz melhor que todos os outros, e mais profundamente. Não é agradável pensar que ele nos liberta de boa parte de nosso trabalho repetitivo? que nos permite dedicarmo-nos mais tempo ao desenvolvimento de nosso espírito, nossa criatividade, nosso destino de hominização?

Digo-lhe que o que me tira do sério, em minha vida, é ter que fazer, eu próprio, o trabalho repetitivo que ele poderia fazer por mim.
É nessa simples consideração que eu encontro boa parte, ou talvez todo o meu interesse pessoal pela informática: com a ajuda do computador somos capazes de automatizar o que há de mais repetitivo em nossas tarefas diárias, bem como os processos repetitivos e necessariamente burocráticos de nossas organizações e empresas. Assim podemos nos libertar deles, e de sua opressão "tarefeira".

Dessa forma, se utilizado com sabedoria, o computador nos torna mais produtivos, nos liberta e nos potencializa para criar; ainda mais, ainda melhor.
Seremos mais humanos, quanto mais poderosas máquinas eles forem, já que nunca se hominizarão!
Mas, se usados sem sabedoria, contudo, não serão mais do que verdadeiras armas a nos desumanizar.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"Inteligência Empresarial" existe isso?

Proponho neste ensaio tecer uma reflexão sobre o termo "Inteligência Empresarial". A figura abaixo, retirada de uma revista, compara a inteligência humana com a inteligência empresarial.

Sempre tendi a considerar esse termo "Inteligência Empresarial", bem como outros do mesmo gênero, como que pertencente à classe daqueles jargões que caracterizam um certo "consultês" linguístico, como se diz familiarmente. Ou seja, palavra um tanto quanto vazia de significado quando examinada de mais perto. Essa tendência explica-se pois afinal, usamos conceitos como "inteligência" fazendo, em geral, referência à uma dada característica própria de organismo físico, vivo, particular e concreto. Ora, como algo que é abstrato: um grupo, um conjunto, uma organização, uma empresa poderia manifestar, ele mesmo, comportamento inteligente? 


Fica então a pergunta: quem usa o termo "Inteligência Empresarial" está abusando do uso da lingua, ou não?

É o grupo, a empresa, que é mesmo inteligente? ou seriam as inteligências individuais (das pessoas concretas) que quando colocadas em relação umas com as outras, compõem aquilo (algo abstrato) que envolve a todos?  Como que constituindo um ambiente, um "clima" organizacional?
E quanto a este último, possui alguma existência própria e real? Se sim, admitindo-se que possua, essa existência não é certamente concreta. Ela pode ser sentida, percebida, embora seja abstrata. Seria então uma espécie de energia, de comunhão de valores, percebidos e compartilhados?

Ou seja, não parece equivocado afirmar que quando se fala em "Inteligência Empresarial" não é propriamente a empresa em si que é inteligente, mas sim o todo constituído por suas partes, seus colaboradores que juntos são mais que a simples soma das partes; i.e. são as pessoas que se comportam com inteligência e, em comunhão nos mesmos valores, alimentam-se elas próprias de um ambiente inteligente. 

Indo ao socorro da Filosofia para melhor entender o fenômeno, lembrar-se-á uma de suas controvérsias antigas: a dos "universais" versus "particulares". Muito presente na Idade Média e ainda hoje discutida, como se vê.

Particulares x Universais
Existem apenas particulares, eis o significado da posição nominalista, ou do Nominalismo. Esse último o dicionário diz tratar-se de uma doutrina filosófica segundo a qual o conceito é apenas um nome acompanhado de uma imagem individual, um ente particular. Os universais (espécies, gêneros, entidades) são apenas puras abstrações, sem realidade (O Nominalismo opõe-se ao Realismo, que prega a existência dos universais). 

Assim, influenciado pelo Nominalismo (só particulares existem), a pergunta que eu me fazia no início do texto é: como é que um grupo de pessoas poderia constituir um organismo físico, vivo? capaz de ser considerado inteligente? É certo que quem vive e então pode apresentar inteligência, em última análise, são as pessoas, os animais, individualmente, particularmente.

Obviamente o grupo não é algo físico, ou vivo. O grupo é algo universal, abstrato e logo não faria sentido usar o termo "inteligência", ou mesmo qualquer outro adjetivo antropomorfizante para designá-lo.

Contudo, percebe-se claramente, com o auxílio do paralelo feito na figura acima, pelo Prof. Eugênio Mussak, que pode haver sim um "clima" em qualquer organização empresarial. E é exatamente porque ele existe e é bem real, que é preciso cuidar dele, alimentá-lo. 

Adotar uma postura nominalista ou realista nesse caso? É realmente controverso, admitamos. O que me parece certo, entretanto, é que pessoas pertencentes a qualquer empresa (por exemplo) vivem no grupo e que esse relacionamento com outras e também com o ambiente físico (instalações) as afetam direta e fortemente e obviamente não podem ser desconsiderados.

Empresa inteligente: empresa que aprende! 
Se a empresa são as pessoas e as pessoas aprendem, poderia a empresa prender? O grupo é mais que a soma de seus componentes? Com efeito, como vimos a pergunta não é nada cretina pois se alguém chamar pela empresa após o expediente, quando todos já tiverem ido embora, não haverá resposta alguma. Concretamente a empresa não existe como entidade extensa no mundo.

Então o que é uma empresa inteligente (ou uma inteligência empresarial, conceito usado na figura)? Pode-se dizer que seria uma empresa que aprende. As pessoas de uma empresa que aprende, uma empresa "inteligente", são envolvidas nos processos decisórios, tem acesso às informações e sentem-se assim parte integrante do negócio. Nas palavras de um amigo, uma empresa inteligente é "uma empresa onde as pessoas fazem parte (estão em um grupo), são parte (sentem-se parte do grupo, pois são ouvidas) e têm parte (participam dos resultados)." Ou seja, uma empresa onde há o estabelecimento pelos gestores desta espécie de estrutura comportamental (a princípio exclusivamente humana) aprende sim e evolui. Como estas são características essencialmente humanas, então me parece legítimo utilizar-se o termo "Inteligência Empresarial".