Minha questão é saber como o ser humano pode viver melhor, e isso só a filosofia é capaz de responder...
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Como os gregos, nós hoje achamos que uma vida mortal bem-sucedida é melhor que ter uma imortalidade fracassada, uma vida infinita e sem sentido. Buscamos uma vida boa para quem aceita lucidamente a morte sem a ajuda de uma força superior." (Luc Ferry)

sábado, 3 de agosto de 2013

Mensagem do Reitor da UFMG sobre quotas e demais políticas afirmativas na universidade pública brasileira.

Mensagem do Reitor

“Vivemos em um país de injustiças seculares em que a desigualdade figura como algo permanente e natural e a pobreza parece resistir aos discursos e às políticas que pretendem erradicá-la. Não é mais possível desconhecer ou ignorar essa realidade. A população vive segregada em classes de renda cada vez mais díspares, configurando taxas de desigualdade incompatíveis com sociedades democráticas e com as melhores tradições republicanas. O acesso ao ensino superior é uma das expressões mais claras da nossa desigualdade social. Famílias de baixa renda têm enormes dificuldades de acesso à educação superior e apenas algumas, em número muito reduzido, conseguem que seus filhos cheguem à condição de disputar uma vaga para o ensino superior.

Será razoável que brasileiros tão díspares em oportunidades, submetam-se às mesmas normas e exigências no vestibular?

Quando falo de oportunidades desiguais, refiro-me a escolas com boa infraestrutura e professores bem remunerados, oportunidades de aulas de reforços, aulas práticas com laboratórios adequados, intercâmbios internacionais, possibilidades de viagens, escolas de línguas, ambiente familiar estimulante. Enfim, todas as oportunidades educacionais que um jovem de origem social pobre não consegue ter.

Pois bem, estes jovens que experimentam a condição da pobreza e, muitas vezes, de famílias de origem africana, cujos antepassados foram submetidos à vileza máxima da escravidão, estes jovens pobres vêem na Universidade, o sonho de mobilidade social ou da solidariedade coletiva aos seus pares, não importa.

Será que não temos a responsabilidade de garantir a esses jovens o direito da diferenciação? Ou, em outras palavras, para situações tão desiguais não teríamos a obrigação de adotar medidas diferenciadas que possam, não reproduzir a desigualdade, e sim eqüalizar as oportunidades? Não seria esse o momento de construir uma experiência generosa e justa em que poderíamos oferecer o tratamento diferenciado que nosso espírito de solidariedade nos recomenda?

Pensem nisso! Discutam o tema e vamos, juntos, encontrar mecanismos que, efetivamente, garantam a inclusão e a permanência desses jovens em nossa Universidade”.

Ronaldo Tadêu Pena
Reitor UFMG (Gestão 2006 - 2010)