Minha questão é saber como o ser humano pode viver melhor, e isso só a filosofia é capaz de responder...
"
Como os gregos, nós hoje achamos que uma vida mortal bem-sucedida é melhor que ter uma imortalidade fracassada, uma vida infinita e sem sentido. Buscamos uma vida boa para quem aceita lucidamente a morte sem a ajuda de uma força superior." (Luc Ferry)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um histórico sobre Ontologias Informacionais

Inspirado do verbete de Tom Gruber
na Enciclopédia de Sistemas de Banco de Dados, Ling Liu e M. Tamer Özsu (Eds.), Springer-Verlag, 2009.

O termo "ontologia" tem sua origem no campo da filosofia que se preocupa com o estudo do "ser" ou da "existência".  Em filosofia fala-se de uma ontologia como uma teoria da natureza da "existência" ou da natureza daquilo "que há" (no universo). Um exemplo é a ontologia de Aristóteles, que identifica categorias primitivas, tais como "substância" e "qualidade", que se presumia no passado dar conta da constituição fundamental de "Tudo Que É" ou de "Tudo Que Há".  Já na ciência da informação e da computação, ontologia é um termo técnico que indica um artefato que é projetado para uma finalidade, que é permitir a modelagem, o mais fielmente possível, do conhecimento sobre algum domínio, real ou imaginado. 

Para além da Filosofia, o termo foi adotado na área de Inteligência Artificial (IA) cujos pesquisadores reconheceram a aplicabilidade da lógica matemática [6] em seu trabalho, e criaram ontologias como modelos computacionais que permitiram certos tipos de raciocínio automatizado [5].  Nos anos 80, a comunidade de IA passou a usar o termo ontologia para se referir a uma dada teoria de um mundo modelado (por exemplo, Naive Física [5]) ou a um componente presente na arquitetura de todo sistema baseados em conhecimento (na época: sistemas especialistas). Alguns pesquisadores, inspirando-se na Filosofia, usaram o termo para designar a construção de  modelos segundo uma espécie de filosofia aplicada [10].

No início dos anos 90, um esforço para criar padrões de interoperabilidade entre sistemas -- antevendo-se provavelmente o futuro da Web --, identificou a conveniência em se usar uma pilha de tecnologias na qual uma camada identificada como ontológica devia ser componente padrão para a construção de sistemas baseados em conhecimento [8].  

Em [3] define-se ontologia como uma "especificação explícita de uma conceitualização", que é, por sua vez, formada dos "objetos, conceitos e outras entidades que se presume existir em alguma área de interesse e as relações que mantêm entre si."  Os  termos "especificação" e "conceituação" causaram e ainda causam muitos debates, entretanto, os pontos essenciais desta definição dada por T. Gruber são:
  • Uma ontologia define (especifica) os conceitos, relacionamentos e outras distinções que são relevantes para a modelagem de um domínio.
  • A especificação assume a forma das definições do vocabulário representacional (classes, relações, e assim por diante), que fornecem significados em um vocabulário e restrições formais que incidem sobre a sua utilização coerente. 
Uma objeção comum a esta definição é que ela é muito ampla, permitindo representar uma série de especificações desde glossários simples, até teorias lógicas expressas em Cálculo de Predicados [9].
Porém, Gruber responde que isso é verdade também para modelos de dados de qualquer complexidade, por exemplo, um banco de dados relacional de uma única tabela e coluna ainda é uma instância do modelo de dados relacional, embora seja extremamente simples. 

A acepção de Gruber assume uma posição pragmática, podendo-se dizer que uma ontologia informacional é uma ferramenta e/ou produto de engenharia e, assim, seria definida em função de seu uso. Nesta perspectiva, o que importa é o uso que se faz de ontologias para fornecer a representação com a qual pode-se instanciar modelos de domínio em bases de conhecimento, fazer consultas a serviços (baseados em conhecimento), e representar os resultados das chamadas a tais serviços. Por exemplo, uma API de um serviço de busca pode oferecer não mais do que um glossário textual de termos com os quais é feita a formulação de consultas, e este agiria como uma ontologia. Por outro lado, e isso parece corroborar o entendimento de Gruber, atualmente o padrão de Web Semântica do W3C sugere um formalismo específico para ontologias (OWL), em várias versões, que variam em poder de expressão [7].  Isso parece refletir a intenção de que uma ontologia é uma especificação de um modelo de dados abstrato (a conceituação de um domínio), que é independente da sua forma particular (ou de uma realidade possivelmente inatingível, mesmo pela ciência).

FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS
De qualquer forma, o termo "ontologia" deve ser discutido no contexto aplicado da modelagem de vocabulários e da engenharia de software e bancos de dados, porém isso não dispensa uma forte fundamentação teórica.
Uma ontologia especifica um vocabulário com o qual se deseja fazer afirmações, que podem ser entradas ou saídas de agentes de software.  Como uma especificação de interface de comunicação, a ontologia fornece uma linguagem para se comunicar com o agente.  Um agente que suporte a interface não é obrigado a usar os termos da ontologia numa codificação interna de seu conhecimento. No entanto, as definições e restrições formais da ontologia vão restringir aquilo que pode ser significativamente afirmado na linguagem usada.  Em essência, comprometer-se com uma ontologia (e.g., suportar uma interface usando a ontologia do vocabulário) exige que as declarações que são feitas nas entradas e saídas sejam logicamente consistentes com as definições e as restrições da ontologia [3].  
Isso é análogo à exigência de que as linhas de uma tabela do banco de dados (ou instruções de inserção em SQL) devem ser consistentes com as restrições de integridade, que são colocadas de forma declarativa e independentemente do formato interno dos dados.

Da mesma forma, enquanto uma ontologia deve ser formulada por alguma linguagem de representação, a especificação deve ser construída no nível semântico - ou seja, independente da estratégia de modelagem de dados ou da implementação.  Por exemplo, um modelo de banco de dados convencional pode representar a identidade dos indivíduos usando uma chave primária, que atribui um identificador único para cada indivíduo.  No entanto, o identificador de chave primária é um artefato próprio ao processo de modelagem física/lógica e não denota algo explícito no domínio.  Ontologias são tipicamente formuladas em linguagens que estão mais próximos do poder expressivo de formalismos lógicos como o cálculo de predicados.  Isso permite que o projetista da ontologia seja capaz de indicar abstrações e restrições semânticas sobre abstrações, sem forçar a representação a seguir uma ou outra estratégia de codificação específica. Por exemplo, um formalismo típico de ontologias seria capaz de dizer que um indivíduo é um membro de uma determinada classe ou tem algum valor de atributo sem se referir diretamente a quaisquer padrões de implementação (pattern), como por exemplo a utilização ou explicitação de identificadores de chave primária.  Similarmente, em uma ontologia pode-se representar restrições que valem para relações simples (A é uma subclasse de B), que podem ser codificadas como um join em chaves estrangeiras no modelo relacional.

A engenharia de ontologias se preocupa em sistematizar o processo de como fazer escolhas de representação que capturem as distinções relevantes de um domínio em seu mais alto nível de abstração, deixando os significados dos termos o mais claro possível.  Como em outras formas de modelagem de dados, são necessários muitos conhecimentos e habilidades do analista ou engenheiro. Vale notar que a herança das ontologias informacionais na filosofia acaba sendo um rico acervo de teorias que indicam sobre como fazer escolhas (compromissos) ontológicas de forma sistemática e coerente. Por exemplo, muitos dos insights vindos das "ontologias formais" motivadas pela compreensão "do mundo real" podem ser aplicados na construção de ontologias informacionais para os mundos de dados [4].  
Quando ontologias são codificados em formalismos padrão, torna-se possível a sua reutilização, o que é motivado pelo custo e pela dificuldade da consideração sistemática do conhecimento humano ou da linguagem [11].  Com efeito, ontologias devem incorporar os resultados das pesquisas acadêmicas feitas no domínio modelado. Elas oferecem um método operacional para colocar as teorias dos domínios para funcionarem na prática em sistemas de banco de dados.

PRINCIPAIS APLICAÇÕES
Ontologias são parte da pilha de padrões do W3C para a Web Semântica, e são usadas para especificar vocabulários conceituais padrão para a troca de dados entre sistemas, prestação de serviços de atendimento para consultas, publicar bases de conhecimento reutilizáveis, e ofertar serviços para facilitar a interoperabilidade entre múltiplos e heterogêneos, sistemas e bancos de dados.  
O papel fundamental das ontologias no que diz respeito a sistemas de banco de dados é especificar uma representação de modelagem de dados em um nível de mais abstração, acima daqueles específicos que compõem os projetos de banco de dados (lógico ou físico). Assim, com base na ontologia do domínio os dados podem ser exportados, traduzidos para outras línguas, consultados e unificados por sistemas e serviços desenvolvidos de forma independente. Aplicações bem sucedidas até o momento incluem a interoperabilidade de banco de dados, pesquisas em múltiplos bancos de dados, e a integração de serviços web.

LEITURA RECOMENDADA
[1] Berners-Lee, T., Hendler, J. and Lassila, O.  The Semantic Web,Scientific American, May 2001.  Also http://www.w3.org/2001/sw/
[3] Gruber, T. R., Toward Principles for the Design of Ontologies Used for Knowledge SharingInternational Journal Human-Computer Studies, 43(5-6):907-928, 1995.
[4] Guarino, N. Formal Ontology, Conceptual Analysis and Knowledge Representation, International Journal of Human-Computer Studies, 43(5-6):625–640, 1995.
[5] Hayes, P. J. The Second Naive Physics Manifesto, in Hobbs and Moore (eds.), Formal Theories of the Common-Sense World, Norwood:Ablex, 1985.
Artificial Intelligence, 5(13): 27-39, 1980.
[7] McGuinness, D. L. and van Harmelen, F.  OWL Web Ontology Language.  W3C Recommendation 10 February 2004. http://www.w3.org/TR/owl-features/
[8] Neches, R., Fikes, R. E., Finin, T., Gruber, T. R., Patil, R., Senator, T., & Swartout, W. R. Enabling technology for knowledge sharingAI Magazine, 12(3):16-36, 1991.
[9] Smith, B. and Welty, C.  Ontology---towards a new synthesis. Proceedings of the International Conference on Formal Ontology in Information Systems (FOIS2001). ACM Press, 2001.
[10] Sowa, J. F. Conceptual Structures. Information Processing in Mind and Machine, Reading, MA: Addison Wesley, 1984.
[11] Standard Upper Ontology Working Group (SUO) IEEE P1600.1, http://suo.ieee.org/

Ontologias informacionais

Inspirado de Tom Gruber
na Enciclopédia de Sistemas de Banco de Dados, Ling Liu e M. Tamer Özsu (Eds.), Springer-Verlag, 2009.

DEFINIÇÃO
No contexto das ciências da informação e da computação, uma ontologia define um conjunto de primitivas de representação para modelar um domínio de conhecimento ou de discurso.  As primitivas são tipicamente classes (ou conjuntos), atributos (ou propriedades), e relações (ou relações entre membros de classes).  

As definições das primitivas incluem a descrição textual de seus significados, mas também várias restrições à sua aplicação de forma logicamente coerente. 

No contexto dos sistemas de banco de dados, as ontologias podem ser vistas como representando um nível de abstração acima dos modelos de dados (hierárquico ou relacional), mas destinada a modelagem do conhecimento sobre os indivíduos representados no sistema, seus atributos e suas relações com outros indivíduos.

Ontologias são tipicamente especificadas em linguagens que permitem abstrair estruturas de dados e estratégias de implementação. Na prática, as linguagens de ontologias estão mais próximas do poder expressivo da lógica de primeira ordem do que as linguagens utilizadas para modelar bancos de dados.

Por esta razão, as ontologias estariam em um nível dito "semântico", enquanto os modelos ou esquemas de dados pertenceriam ao nível "lógico", logo acima do nível "físico" (que é como os dados estão organizados fisicamente).  

Devido à sua independência de modelos de dados de níveis mais baixos, as ontologias são usadas para integrar bancos de dados heterogêneos, permitindo a interoperabilidade entre sistemas distintos, e a especificação de interfaces para serviços baseados em conhecimento independentes.  

Na pilha de tecnologias da Web Semântica [1], as ontologias são localizadas em uma camada explícita de alto nível.  Existem hoje várias linguagens e ferramentas de código aberto (open source) e comerciais para criar e trabalhar com ontologias.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ensinar a pensar

Immanuel Kant
Espera-se que o professor desenvolva no seu aluno, em primeiro lugar, o homem de entendimento, depois, o homem de razão, e, finalmente, o homem de instrução. 
Este procedimento tem esta vantagem: mesmo que, como acontece habitualmente, o aluno nunca alcance a fase final, terá mesmo assim beneficiado da sua aprendizagem. Terá adquirido experiência e ter-se-á tornado mais inteligente, se não para a escola, pelo menos para a vida.

Se invertermos este método, o aluno imita uma espécie de razão, ainda antes de o seu entendimento se ter desenvolvido. Terá uma ciência emprestada que usa não como algo que, por assim dizer, cresceu nele, mas como algo que lhe foi dependurado. A aptidão intelectual é tão infrutífera como sempre foi. Mas ao mesmo tempo foi corrompida num grau muitíssimo maior pela ilusão de sabedoria. É por esta razão que não é infrequente deparar-se-nos homens de instrução (estritamente falando, pessoas que têm estudos) que mostram pouco entendimento. É por esta razão, também, que as academias enviam para o mundo mais pessoas com as suas cabeças cheias de inanidades do que qualquer outra instituição pública.
[...] Em suma, o entendimento não deve aprender pensamentos mas a pensar. Deve ser conduzido, se assim nos quisermos exprimir, mas não levado em ombros, de maneira a que no futuro seja capaz de caminhar por si, e sem tropeçar.

A natureza peculiar da própria filosofia exige um método de ensino assim. Mas visto que a filosofia é, estritamente falando, uma ocupação apenas para aqueles que já atingiram a maturidade, não é de espantar que se levantem dificuldades quando se tenta adaptá-la às capacidades menos exercitadas dos jovens. O jovem que completou a sua instrução escolar habituou-se a aprender. Agora pensa que vai aprender filosofia. Mas isso é impossível, pois agora deve aprender a filosofar. [...] Para que pudesse aprender filosofia teria de começar por já haver uma filosofia. Teria de ser possível apresentar um livro e dizer: "Veja-se, aqui há sabedoria, aqui há conhecimento em que podemos confiar. Se aprenderem a entendê-lo e a compreendê-lo, se fizerem dele as vossas fundações e se construírem com base nele daqui para a frente, serão filósofos". Até me mostrarem tal livro de filosofia, um livro a que eu possa apelar, [...] permito-me fazer o seguinte comentário: estaríamos a trair a confiança que o público nos dispensa se, em vez de alargar a capacidade de entendimento dos jovens entregues ao nosso cuidado e em vez de os educar de modo a que no futuro consigam adquirir uma perspectiva própria mais amadurecida, se em vez disso os enganássemos com uma filosofia alegadamente já acabada e cogitada por outras pessoas em seu benefício. Tal pretensão criaria a ilusão de ciência. Essa ilusão só em certos lugares e entre certas pessoas é aceite como moeda legítima. Contudo, em todos os outros lugares é rejeitada como moeda falsa. O método de instrução próprio da filosofia é zetético, como o disseram alguns filósofos da antiguidade (de ζητειν). 
Por outras palavras, o método da filosofia é o método da investigação. Só quando a razão já adquiriu mais prática, e apenas em algumas áreas, é que este método se torna dogmático, isto é, decisivo. Por exemplo, o autor sobre o qual baseamos a nossa instrução não deve ser considerado o paradigma do juízo. Ao invés, deve ser encarado como uma ocasião para cada um de nós formar um juízo sobre ele, e até mesmo, na verdade, contra ele. 
O que o aluno realmente procura é proficiência no método de reflectir e fazer inferências por si. E só essa proficiência lhe pode ser útil. Quanto ao conhecimento positivo que ele poderá talvez vir a adquirir ao mesmo tempo — isso terá de ser considerado uma consequência acidental. Para que a colheita de tal conhecimento seja abundante, basta que o aluno semeie em si as fecundas raízes deste método. 

Immanuel Kant
Tradução de Desidério Murcho
Texto retirado de «Anúncio do Programa do Semestre de Inverno de 1765-1766» da colectânea de textos Theoretical Philosophy, 1755-1770 (edição de David Walford e Ralf Merbote, Cambridge University Press, 1992), pp. 2:306-7.

O valor da filosofia

Bertrand Russell
Retirado de Os Problemas da Filosofia, de Bertrand Russell (Edições 70, 2008). Tradução de Desidério Murcho

Tendo agora chegado ao fim da nossa breve e incompleta revista dos problemas da filosofia, é boa ideia considerar, em conclusão, qual é o valor da filosofia e por que deve ser estudada. É tanto mais necessário considerar esta questão quanto muitos homens, sob a influência da ciência ou da vida prática, têm tendência para duvidar se a filosofia é algo melhor do que inocentes mas inúteis frivolidades, distinções capciosas e controvérsias sobre matérias acerca das quais o conhecimento é impossível.
Esta perspectiva da filosofia parece resultar em parte de uma concepção errada dos fins da vida, e em parte de uma concepção errada do tipo de bens que a filosofia procura atingir. A ciência física, por meio de invenções, é útil a inúmeras pessoas que a ignoram completamente; assim, o estudo da ciência física é recomendável não apenas, ou primariamente, por causa do efeito que tem no estudante, mas antes por causa do efeito que tem na humanidade em geral. Contudo, a utilidade não pertence à filosofia. Se o estudo da filosofia tem realmente algum valor para alguém além dos estudantes de filosofia, tem de ser apenas indiretamente, através dos seus efeitos nas vidas daqueles que a estudam. É nestes efeitos, consequentemente, e não noutro lado, que o valor da filosofia tem de ser primariamente procurado.
Mas além disso, para que não falhemos na nossa diligência para determinar o valor da filosofia, temos primeiro de libertar as nossas mentes dos preconceitos do que erradamente se chama homens "práticos". O homem "prático", tal como esta palavra se usa frequentemente, é aquele que reconhece apenas bens materiais, que vê que os homens têm de ter alimento para o corpo, mas não presta atenção à necessidade de fornecer alimento para a mente. Se todos os homens tivessem uma boa situação financeira, se a pobreza e a doença tivessem sido reduzidas ao seu ponto mais baixo possível, faltaria ainda fazer muito para produzir uma sociedade valiosa; e, mesmo no mundo que temos, os bens da mente são pelo menos tão importantes quanto os bens do corpo. É exclusivamente entre os bens da mente que o valor da filosofia se encontra; e só quem não é indiferente a estes bens pode ser persuadido de que o estudo da filosofia não é uma perda de tempo.
A filosofia, como todos os outros estudos, visa primariamente o conhecimento. O conhecimento que visa é o tipo de conhecimento que dá unidade e sistema ao corpo das ciências, e o tipo que resulta de um exame crítico dos fundamentos das nossas convicções, preconceitos e crenças. Mas não se pode defender que a filosofia tem tido um enorme sucesso nas suas tentativas de fornecer respostas definitivas para as suas questões. Se perguntarmos a um matemático, a um mineralogista, a um historiador ou a qualquer outro homem instruído que corpo definitivo de verdades foram estabelecidas pela sua ciência, a sua resposta irá durar tanto tempo quanto estivermos dispostos a ouvir. Mas se fizermos a mesma pergunta a um filósofo, ele irá ter de confessar, se for cândido, que o seu estudo não alcançou resultados positivos como os que foram alcançados pelas outras ciências. É verdade que isto se explica em parte pelo facto de que, mal o conhecimento definitivo sobre qualquer assunto se torna possível, tal assunto deixa de se chamar filosofia, e torna-se uma ciência independente. O estudo dos céus, que agora pertence à astronomia, já esteve todo incluído na filosofia; a grande obra de Newton chamava-se "os princípios matemáticos da filosofia natural". Analogamente, o estudo da mente humana, que era parte da filosofia, foi agora separado da filosofia e tornou-se a ciência da psicologia. Assim, em grande parte, a incerteza da filosofia é mais aparência do que realidade: aquelas questões que são já susceptíveis de respostas definitivas são colocadas nas ciências, ao passo que só permanecem para formar o resíduo a que se chama filosofia aquelas a que, acualmente, nenhuma resposta definitiva se pode dar.
Contudo, isto é apenas uma parte da verdade com respeito à incerteza da filosofia. Há muitas questões — e entre elas as que são do mais profundo interesse para a nossa vida espiritual — que, tanto quanto podemos ver, têm de continuar insolúveis pelo intelecto humano a menos que os seus poderes passem a ser de uma ordem deveras diferente do que são agora. Tem o universo alguma unidade ou plano ou propósito, ou é uma confluência fortuita de átomos? É a consciência uma parte permanente do universo, dando a esperança de um crescimento sem fim em sabedoria, ou é um acidente transitório num pequeno planeta no qual a vida terá de acabar por se tornar impossível? São o bem e o mal importantes para o universo ou apenas para o homem? Tais questões são levantadas pela filosofia, e respondidas de modos diversos por filósofos diversos. Mas parece que, sejam as respostas susceptíveis de ser descobertas de outro modo ou não, nenhumas das respostas sugeridas pela filosofia são demonstrativamente verdadeiras. Contudo, por mais pequena que seja a esperança de descobrir uma resposta, faz parte da atividade filosófica continuar a considerar tais questões, para nos tornar cientes da sua importância, para examinar todas as suas abordagens e para manter vivo aquele interesse especulativo no universo que é susceptível de ser liquidado se nos confinarmos ao conhecimento que pode ser definitivamente estabelecido.
É verdade que muitos filósofos sustentaram que a filosofia poderia estabelecer a verdade de certas respostas a tais questões fundamentais. Supuseram que o que é da maior importância nas crenças religiosas poderia provar-se ser verdadeiro por estrita demonstração. Para ajuizar tais tentativas, é necessário inspecionar o conhecimento humano, e formar uma opinião quanto aos seus métodos e limitações. Em tais matérias seria imprudente pronunciarmo-nos dogmaticamente; mas se as investigações dos nossos capítulos anteriores não nos extraviaram, seremos obrigados a renunciar à esperança de encontrar provas filosóficas das crenças religiosas. Não podemos, consequentemente, incluir como parte do valor da filosofia qualquer conjunto definitivo de respostas a tais questões. Logo, uma vez mais, o valor da filosofia não pode depender de qualquer suposto corpo de conhecimento, susceptível de ser definitivamente estabelecido, a adquirir por quem a estuda.
Devemos procurar o valor da filosofia, de facto, em grande medida na sua própria incerteza. O homem sem rudimentos de filosofia passa pela vida preso a preconceitos derivados do senso comum, a crenças costumeiras da sua época ou da sua nação, e a convicções que cresceram na sua mente sem a cooperação ou o consentimento da sua razão deliberativa. Para tal homem o mundo tende a tornar-se definitivo, finito, óbvio; os objetos comuns não levantam questões, e as possibilidades incomuns são rejeitadas com desdém. Pelo contrário, mal começamos a filosofar, descobrimos, como vimos nos nossos capítulos de abertura, que mesmo as coisas mais quotidianas levam a problemas aos quais só se podem dar respostas muito incompletas. A filosofia, apesar de não poder dizer-nos com certeza qual é a resposta verdadeira às dúvidas que levanta, é capaz de sugerir muitas possibilidades que alargam os nossos pensamentos e os libertam da tirania do costume. Assim, apesar de diminuir a nossa sensação de certeza quanto ao que as coisas são, aumenta em muito o nosso conhecimento quanto ao que podem ser; remove o dogmatismo algo arrogante de quem nunca viajou pela região da dúvida libertadora, e mantém vivo o nosso sentido de admiração ao mostrar coisas comuns a uma luz incomum.
À parte a sua utilidade ao mostrar possibilidades insuspeitas, a filosofia tem valor — talvez o seu principal valor — por via da grandeza dos objetos que contempla, e da libertação de objetivos limitados e pessoais que resulta desta contemplação. A vida do homem instintivo está fechada no círculo dos seus interesses privados: a família e os amigos podem ser incluídos, mas o mundo exterior não é tido em consideração excepto na medida em que possa ajudar ou prejudicar o que pertence ao círculo dos desejos instintivos. Em tal vida há algo de febril e limitado, em comparação com a qual a vida filosófica é calma e livre. O mundo privado dos interesses instintivos é pequeno, localizando-se no seio de um mundo grande e poderoso que, mais cedo ou mais tarde, terá de deixar o nosso mundo privado em ruínas. A menos que possamos alargar de tal modo os nossos interesses que incluam todo o mundo exterior, somos como uma guarnição numa fortaleza sitiada, sabendo que o inimigo impede a fuga e que a rendição última é inevitável. Em tal vida não há paz, mas antes um conflito constante entre a insistência do desejo e a impotência da vontade. Temos de escapar desta prisão e deste conflito, de um modo ou de outro, para a nossa vida ser grandiosa e livre.
Uma maneira de escapar é pela contemplação filosófica. A contemplação filosófica, na sua perspectiva mais ampla, não divide o universo em dois campos hostis — amigos e inimigos, vantajoso e hostil, bom e mau — vê o todo imparcialmente. A contemplação filosófica, quando não tem misturas, não tem como objectivo provar que o resto do universo é favorável ao homem. Toda a aquisição de conhecimento é um alargamento do Eu, mas este alargamento alcança-se melhor quando não é diretamente procurado. Obtém-se quando só o desejo de conhecer é operativo, por um estudo que não deseja previamente que os seus objetos tenham este ou aquele carácter, antes adaptando o Eu aos caracteres que encontra nos seus objetos. Este alargamento do Eu não se obtém quando, aceitando o Eu tal como é, tentamos mostrar que o mundo é tão similar a este Eu que o seu conhecimento é possível sem admitir o que parece alienígena. O desejo de provar isto é uma forma de auto-afirmação e, como toda a auto-afirmação, é um obstáculo ao desejado crescimento do Eu, crescimento de que o Eu sabe ser capaz. A auto-afirmação, tanto na especulação filosófica como noutras áreas, vê o mundo como um meio para os seus próprios fins; assim, dá menos importância ao mundo do que ao Eu, e o Eu estabelece limites à grandeza dos seus bens. Na contemplação, pelo contrário, começamos pelo não-Eu e, através da sua grandeza, os limites do Eu alargam-se; através do infinito do universo, a mente que o contempla consegue partilhar o infinito.
Por esta razão, a grandeza de alma não é fomentada pelas filosofias que assimilam o universo ao Homem. O conhecimento é uma forma de união do Eu com o não-Eu; como toda a união, é prejudicada pela dominação, e consequentemente por qualquer tentativa para forçar o universo a conformar-se ao que encontramos em nós. Há uma tendência filosófica muito comum favorável à perspectiva que nos diz que o Homem é a medida de todas as coisas, que a verdade é feita pelo homem, que o espaço e o tempo e o mundo dos universais são propriedades da mente e que, se há algo que não seja criado pela mente, é incognoscível e sem importância para nós. Esta perspectiva, se as nossas discussões prévias foram corretas, não é verdadeira; mas além de não ser verdadeira, tem o efeito de roubar à contemplação filosófica tudo o que lhe dá valor, dado que agrilhoa a contemplação ao Eu. Aquilo a que chama conhecimento não é uma união com o não-Eu, mas um conjunto de preconceitos, hábitos e desejos que constituem um véu impenetrável entre nós e o mundo que está para além. O homem que tem prazer em tal teoria do conhecimento é como o homem que nunca deixa o círculo doméstico por ter medo que a sua palavra possa não ser lei.
A verdadeira contemplação filosófica, pelo contrário, encontra a sua satisfação em todo o alargamento do não-Eu, em tudo o que aumenta os objetos contemplados, e desse modo o sujeito que contempla. Na contemplação, tudo o que é pessoal ou privado, tudo o que depende do hábito, do interesse próprio, ou do desejo, distorce o objecto e assim compromete a união que o intelecto procura. Erguendo desse modo uma barreira entre sujeito e objecto, essas coisas pessoais e privadas tornam-se uma prisão para o intelecto. O intelecto livre irá ver como Deus poderia ver, sem um aqui e agora, sem esperanças e receios, sem as peias das crenças costumeiras e dos preconceitos tradicionais, calmamente, desapaixonadamente, no desejo único e exclusivo de conhecimento — conhecimento tão impessoal, tão puramente contemplativo, quanto é possível ao homem alcançar. Logo, também o intelecto livre irá valorizar mais o conhecimento abstrato e universal, no qual os acidentes da história privada não entram, do que o conhecimento dos sentidos, dependente, como tal conhecimento tem de estar, de um ponto de vista exclusivo e pessoal e de um corpo cujos órgãos dos sentidos distorcem tanto quanto revelam.
A mente que se acostumou à liberdade e imparcialidade da contemplação filosófica irá preservar qualquer coisa dessa liberdade e imparcialidade no mundo da ação e da emoção. Irá ver os seus propósitos e objetivos como partes do todo, com a ausência de obstinação que resulta de os ver como fragmentos infinitesimais num mundo no qual nada do resto é afetado por qualquer dos feitos de um homem. A imparcialidade que, em contemplação, é o desejo sem misturas pela verdade, é a mesmíssima qualidade mental que, em ação, é a justiça, e na emoção é aquele amor universal que pode ser dado a todos, e não apenas aos que se julga serem úteis ou admiráveis. Assim, a contemplação alarga não apenas os objetos dos nossos pensamentos, mas também os objetos das nossas ações e afecções: faz-nos cidadãos do universo, e não apenas de uma cidade murada em guerra com tudo o resto. A verdadeira liberdade do homem, e a sua libertação da servidão de esperanças e receios limitados, consiste nesta cidadania do universo.
Assim, para recapitular a nossa discussão do valor da filosofia: a filosofia é de estudar não por causa de quaisquer respostas definitivas às suas questões, dado que nenhumas respostas definitivas podem, em regra, ser conhecidas como verdadeiras, mas antes por causa das próprias questões; porque estas questões alargam a nossa concepção do que é possível, enriquecem a nossa imaginação intelectual e diminuem a confiança dogmática que fecham a mente contra a especulação; mas acima de tudo porque, através da grandeza do universo que a filosofia contempla, a mente também se torna grandiosa, e torna-se capaz dessa união com o universo que constitui o seu bem maior.

Bertrand Russell
Tradução de Desidério Murcho
Retirado de Os Problemas da Filosofia, de Bertrand Russell (Edições 70, 2008)

sábado, 31 de julho de 2010

Como ser um conservador-liberal-socialista

Por Leszek Kolakowski.

Lema: "Por favor, um passo à frente para trás!" Essa é a tradução aproximada de uma solicitação que um dia eu ouvi em um bonde em Varsóvia. Proponho-me a fazer dela o slogan de uma poderosa Internacional, que não existe.

Um conservador acredita:

1. Que na vida humana nunca houve e nunca haverá melhorias que não sejam pagas com deteriorações e males, assim, ao considerar cada projeto de reforma e melhoria, o seu preço tem de ser avaliado. Dito de outra forma, inúmeros males são compatíveis (ou seja, que podemos sofre-los de forma abrangente e ao mesmo tempo), enquanto que muitos bens são limitados ou anulam-se uns aos outros e, portanto, nós nunca vamos aproveitá-los completamente, ao mesmo tempo. Uma sociedade em que não há igualdade nem liberdade de qualquer tipo, é perfeitamente possível, mas uma ordem social que combina a igualdade total e a liberdade não o é. O mesmo se aplica à compatibilidade do planejamento e do princípio da autonomia, a segurança e o progresso técnico. Dito de outra maneira, não há final feliz da história humana.

2. Que nós não sabemos até que ponto várias formas tradicionais de vida social - família, os ritos, a nação, as comunidades religiosas - são necessários para tornar a vida tolerável na sociedade ou mesmo possível. No entanto, não há razão para acreditar que a destruição dessas formas ou por expor sua irracionalidade, possamos aumentar nossas chances de felicidade, paz, segurança e liberdade. Não podemos saber o que ocorreria se, por exemplo, a família monogâmica fosse revogada, ou se o honrado costume de enterrar os mortos cedesse lugar à reciclagem racional de cadáveres para fins industriais. Seria aconselhável, no entanto, esperar o pior.

3. Que a idéia fixa da filosofia do Iluminismo - a saber, que a inveja, vaidade, ganância e agressão são causadas pelas deficiências das instituições sociais e que desaparecerão uma vez que estas instituições forem reformadas - não só é completamente inverossímil e contrária à experiência, mas extremamente perigosa. Como estas instituições teriam podido existir se fossem tão contrárias à verdadeira natureza do homem? A esperança de que podemos institucionalizar fraternidade, amor e altruísmo é já ter um plano confiável para o despotismo.

Um liberal é convicto de que:

1. Essa idéia antiga de que a finalidade do Estado é a segurança continua a ser válida. Ela mantém o seu valor mesmo se a noção de "segurança" for expandida para incluir não só a protecção de pessoas e bens por meio da lei, mas também todo um sistema de seguro: que as pessoas não deveriam morrer de fome se encontram-se desempregadas, que os pobres não devem ser condenados à morte por falta de assistência médica, que as crianças devem ter acesso gratuito à educação - todos estes também devem fazer parte da segurança. No entanto, a segurança nunca deve ser confundida com a liberdade. O Estado não garante a liberdade de ação regulamentando vários aspectos da vida, mas sim não fazendo nada. Na verdade, a segurança só pode ser expandida às custas da liberdade. Em todo caso, fazer as pessoas felizes não é a função do Estado.

2. Que as comunidades humanas são ameaçados não só pela estagnação, mas também pela degradação quando eles são tão organizados que não há mais espaço para a iniciativa individual e a criatividade. O suicídio coletivo da humanidade é concebível, mas um formigueiro humano permanente não é, pela simples razão de que não somos formigas.

3. Que é altamente improvável que uma sociedade na qual todas as formas de competitividade tenham sido aniquiladas continuaria a ter o estímulo necessário para a criatividade e progresso. Mais igualidade não é um fim em si, mas apenas um meio. Em outras palavras, não há sentido em lutar por mais igualdade, se os resultados forem apenas o nivelamento por baixo daqueles que estão em melhor situação, e não a elevação dos desfavorecidos. Perfeita igualdade é um ideal auto-destrutivo.

Um socialista acredita que:

1. Sociedades em que a busca do lucro é o único regulador do sistema produtivo são ameaçadas por catástrofes - talvez mais graves - que sociedades em que o lucro tenha sido totalmente eliminado da regulação das forças de produção. Há boas razões para que liberdade de atividade econômica deva ser limitada por razões de segurança, e para que o dinheiro não deva automaticamente produzir mais dinheiro. Mas a limitação da liberdade nesse caso deve ser compreendida tal como, e não considerada como uma forma superior de liberdade.

2. É absurdo e hipócrita concluir que, simplesmente porque uma sociedade perfeitamente sem conflitos é impossível, todas as formas existentes de desigualdade sejam inevitáveis e que todas as formas de fins lucrativos justificadas. O tipo de pessimismo antropológico conservador que conduziu à convicção surpreendente de que um imposto de renda progressivo era uma abominação desumana é o mesmo, ou tão suspeito quanto, o tipo de otimismo histórico em que o Arquipélago Gulag foi baseado.

3. A tendência a submeter a economia a importantes controles sociais deve ser incentivada, mesmo que o preço a ser pago seja o aumento da burocracia. Tais controles, porém, devem ser exercidos no âmbito da democracia representativa. Assim, é essencial planejar instituições que combatam a ameaça à liberdade que é produzida pelo crescimento desses controles eles mesmos.

Tanto quanto eu posso ver, este conjunto de ideias reguladoras não é auto-contraditório. E, portanto, é possível ser um conservador-liberal-socialista. Isto equivale a dizer que essas três denominações particulares já não são (opções) mutuamente exclusivas.

Quanto à poderosa Internacional, que mencionei no início - ela nunca vai existir, porque não pode prometer às pessoas que elas vão ser felizes.

Leszek Kolakowski, Modernity on Endless Trial, University of Chicago Press, 1990.

terça-feira, 13 de julho de 2010

A invenção da “planitude”

Por Carlos Vogt
A Terra não é plana e isso a gente sabe faz alguns séculos. Ao contrário, é plena, densa redonda e “azul como uma laranja” segundo o poeta francês Paul Eluard. A cadelinha Laika, Yuri Gagarin e o Sputinik nos ajudaram a transformar o conceito em percepção sensível e metafórica dessa plenitude azul provocada pelo efeito de luz e cor da massa líquida do planeta, vista ao longe, à distância sideral do que é possível ver e imaginar, no tempo do espaço-tempo tocado como as cordas de um instrumento feito só de buracos negros e minhocas incomensuráveis.

A Terra não é plana, o universo se expande, as teorias para explicá-lo se esticam e tangem os limites da universalidade do que existe, percebido como existindo em aldeias de “planitude” global desadensadas de memória e carregadas de acúmulos flexíveis de informações.

Três projetos de impacto marcaram o século XX: o que levou o homem à Lua, o que o havia levado à bomba atômica e o que o trouxe de volta, pelo Genoma, à tentativa de compreender os segredos bioquímicos de sua própria vida.

Antes, no começo do século, Freud havia apontado as sucessivas quedas do homem, que, parafraseadas, poderiam nos levar a uma espécie de paradoxo do conhecimento, cujos elementos de composição e de articulação seriam os seguintes: o homem tem uma primeira queda quando é expulso do Paraíso, pelo pecado do conhecimento e pelo conhecimento do pecado; tem uma segunda queda, quando, pelo conhecimento, o heliocentrismo substitui a visão geocêntrica do sistema planetário; uma terceira queda o tira da escala de criatura humana por criação divina para colocá-lo na cadeia evolutiva das espécies; cai novamente, desta vez do centro da história, pelas explicações marxistas da economia de suas relações em sociedade; cai, por fim, de si mesmo, ao ser deslocado de seu eu consciente para as forças inconscientes que parametrizam os seus comportamentos, os seus valores e determinam as suas escolhas e opções quando não as próprias formas de como o sujeito é escolhido, apresentado e representado no palco de suas desilusões.

A primeira queda é mítica, a segunda é cósmica, a terceira é biológica, a quarta é histórica e a quinta é psicanalítica.

Caso faça sentido a saga de seus tombos, a conformação do paradoxo está em que quanto mais ele mergulha no conhecimento de suas profundezas e na profundidade do conhecimento de si e do universo que o circunscreve e que ele escreve, mais o homem é emergido para a superfície plana de sua deserdação e para “planitude” desértica de sua solidão solidária.

Por isso também é que o conhecimento é comovente, como atesta o livro "Dez teorias que comoveram o mundo", de Leonardo Moledo e Esteban Magnani, publicado no Brasil pela Editora da Unicamp, em 2009, em tradução do original argentino, de 2006.

Escolhidas pelos autores estão o heliocentrismo, a gravitação universal, a teoria da combustão, o evolucionismo, a teoria atômica, a teoria da infecção microbiana, a relatividade, a teoria da deriva continental, a genética e o Big Bang.

Qual seria, então, a forma mais acabada do paradoxo dessa comovente história do conhecimento?

A meu ver, seria simples e transitória como é definitiva e complexa a provisoriedade da vida. Conhecer é um ato de coragem que nos leva de pergunta em pergunta ao confronto de alternativas: ou recusamos o conhecimento como dado, ou nos aventuramos no que nos é dado a conhecer. Neste caso, ainda que a biblioteca de nossos conhecimentos seja “periódica”, ela será também “ilimitada” como enunciou Borges sobre a Babel; no outro, seremos só definitivos e limitados pelos muros abertos do labirinto de areia do deserto de informações.

Há, assim, pelo menos, dois modos de conhecer: aquele que nos abandona e nos perde na “planitude” da informação acumulada, tornando-nos sábios-sabidos; aquele que, mantendo-nos em estado de ignorância crítica ─ o que chamei em outro artigo de ignorância cultural (“Ciência e bem-estar cultural”) ─, nos leva a desconfiar da miragem benfazeja do conhecimento dado e nos põe em constante estado de alerta para o que vem pronto, plano e amiúde, vale dizer, os monumentos instantâneos das certezas passageiras.

Neste caso, é muito provável que todos não sejamos sábios; é certo, contudo, que teremos sabedoria. A sabedoria paradoxal que quanto mais aumenta, mais nos faz crescer em conhecimento e mais nos diminui o conforto passivo das situações objetivas e subjetivas de cada conquista ética e cultural.

Nesse sentido, conhecer é erguer-se para cair, se a saga do conhecimento seguir acompanhada de novas e sucessivas quedas.

Se o paradoxo não evita a queda, ajuda a evitar, contudo, a “planitude” monumental do ruído da informação.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Esse maravilhoso analfabeto

                                  Texto de Pedro Lima
                       (Economista e Professor da UFRJ)

FHC, o farol, o sociólogo, entende tanto de Sociologia quanto o governador de São Paulo, José Serra, entende de economia. Lula, que não entende de sociologia, levou 32 milhões de miseráveis e pobres à condição de consumidores; e que também não entende de economia; pagou as contas de FHC, zerou a dívida com o FMI e ainda empresta algum aos ricos Lula, o analfabeto, que não entende de educação, criou mais escolas e universidades que seus antecessores juntos [14 universidades públicas e entendeu mais de 40 campi], e ainda criou o PRÓ-UNI, que leva o filho do pobre à universidade [meio milhão de bolsa para pobres em escolas particulares].

Lula, que não entende de finanças nem de contas públicas, elevou o salário mínimo de 64 para mais de 291 dólares [valores de janeiro de 2010], e não quebrou a previdência como queria FHC.
Lula, que não entende de psicologia, levantou o moral da nação e disse que o Brasil está melhor que o mundo. Embora o PIG-Partido da Imprensa Golpista, que entende de tudo, diga que não.

Lula, que não entende de engenharia, nem de mecânica, nem de nada, reabilitou o Proálcool, acreditou no biodiesel e levou o país à liderança mundial de combustíveis renováveis [maior programa de energia alternativa ao petróleo do planeta].
Lula, que não entende de política, mudou os paradigmas mundiais e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes, passou a ser respeitado e enterrou o G-8 [criou o G-20].

Lula, que não entende de política externa nem de conciliação, pois foi sindicalista brucutu; mandou às favas a ALCA, olhou para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos da América Latina, onde exerce liderança absoluta sem ser imperialista. Tem fácil trânsito junto a Chaves, Fidel, Obama, Evo etc. Bobo que é, cedeu a tudo e a todos.

Lula, que não entende de mulher nem de negro, colocou o primeiro negro no Supremo (desmoralizado por brancos) uma mulher no cargo de primeira ministra, e que pode inclusive, fazê-la sua
sucessora.

Lula, que não entende de etiqueta, sentou ao lado da rainha (a convite dela) e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.

Lula, que não entende de desenvolvimento, nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC; antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é hora de o Estado investir; hoje o PAC é um amortecedor da crise.

Lula, que não entende de crise, mandou baixar o IPI e levou a indústria automobilística a bater recorde no trimestre [como também na linha branca de eletrodomésticos].

Lula, que não entende de português nem de outra língua, tem fluência entre os líderes mundiais; é respeitado e citado entre as pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual [o melhor do mundo
para o Le Monde, Times, News Week, Financial Times e outros...].

Lula, que não entende de respeito a seus pares, pois é um brucutu, já tinha empatia e relação direta com George Bush - notada até pela imprensa americana - e agora tem a mesma empatia com Barack Obama.

Lula, que não entende nada de sindicato, pois era apenas um agitador;.. é amigo do tal John Sweeny [presidente da AFL-CIO - American Federation Labor-Central Industrial Congres - a central de
trabalhadores dos Estados Unidos, que lá sim, é única...] e entra na Casa Branca com credencial de negociador e fala direto com o Tio Sam lá, nos "States".

Lula, que não entende de geografia, pois não sabe interpretar um mapa é autor da [maior] mudança geopolítica das Américas [na história].

Lula, que não entende nada de diplomacia internacional, pois nunca estará preparado, age com sabedoria em todas as frentes e se torna interlocutor universal.

Lula, que não entende nada de história, pois é apenas um locutor de bravatas; faz história e será lembrado por um grande legado, dentro e fora do Brasil.

Lula, que não entende nada de conflitos armados nem de guerra, pois é um pacifista ingênuo, já é cotado pelos palestinos para dialogar com Israel.

Lula, que não entende nada de nada;.. é bem melhor que todos os outros...!

Pedro Lima
Economista e professor de economia da UFRJ

domingo, 13 de junho de 2010

Lya Luft nos ajuda a entender a sordidez humana

Os homens são como anjos montados em porcos, disse Tomás de Aquino.
Não é difícil perceber que, assim como o Bem, o Mal está em todos nós.
Viver no exemplo de Cristo significa escolher o Bem, em todas as circusntâncias de nossa vida efêmera. Ele mostrou à humanidade que existe um outro caminho, que não o da sordidez humana.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

MIT adota Plone em seu portal de cursos online

O maior e melhor repositório de cursos de graduação online do mundo: o OCW do MIT vai adotar o Plone. Interessante notar que a Escola de Ciência da Informação da UFMG se antecipou e adotou o Plone antes para o seu portal web.

Detalhes no site:

MIT Open Courseware Moves to Plone

MIT OpenCourseWare, the free publication of MIT course materials that reflects nearly all undergraduate and graduate subjects taught at MIT, will migrate its materials to Plone over the next several weeks.
MIT OpenCourseWare (OCW), a web-based publication of MIT course content, is adopting Plone. The move will entail migrating 1,981 courses along with all associated PDFs, images and other resources.
This way to the full story: ocw.mit.edu.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O que é ter sucesso?

Em uma lista de discussão falávamos a respeito do que seria "ter sucesso".
Gostei do texto que reproduzo abaixo, de autoria do Hugo Nogueira. Acho que ele diz o essencial de forma simples. Além disso, o texto me fez lembrar da canção Un Homme Heureux, de William Sheller (video).

"Um executivo que passa a maior parte do dia estressado, lutando para ganhar mais, para pagar bugigangas mais caras, que deixa de lado as raízes e a família e que não vê nenhum outro futuro, exceto a perpetuação dos problemas que já tem, pode ser extremamente mal sucedido. Viciado em endorfinas --- que o corpo produz em algumas situações, entre as quais as de estresse -- tal pessoa nunca está feliz, embora possa estar alegre todo o tempo, mascarando a infelicidade. E, confundindo alegria e êxtase com felicidade, vira um verdadeiro perdigueiro em busca de situações que gerem mais e mais endorfinas...
Por outro lado, um homem bem sucedido pode ser aquele que tem somente uma cabana e uma jangada para pescar, mas que encontra realização naquilo que faz, felicidade pelos anos, meses e dias que vive e que sente que tem raízes, um passado e um futuro. Que tem amor e dá amor. Que baliza suas sensações por relacionamentos ricos, não produtos caros.
Claro que há muitos jangadeiros mal sucedidos e muitos executivos bem sucedidos. Este é o ponto importante: não importa o que você tem, mas quem você é. Por isso há milionários felizes e bem sucedidos, e milionários infelizes e mal sucedidos; por isso há jangadeiros felizes e bem sucedidos e jangadeiros infelizes e mal sucedidos. Não são as posses de uma pessoa que definem seu sucesso, mas o que estas pessoas são.
Os comerciais de televisão, e os anúncios sofisticados nas revistas, tentam convencer milhões de pessoas (e conseguem) de que a felicidade está atrelada ao novo carro, computador, casa, celular, vestido... ou o que quer que seja. Aqueles que acreditam nisso, se tornam escravos da ansiedade, escravos dos comerciais de TV, das coleções de moda, dos lançamentos automotivos. E, como um traficante que oferece cada vez mais drogas, e mais fortes, os mesmos comerciais parecem nunca oferecer a tralha definitiva. Tudo é descartável no próximo lançamento -- de brinquedos à jatos comerciais.
Sucesso é aquilo que você é, não aquilo que você tem, porque tudo aquilo que você tem, pode perder amanhã. Um terremoto, um vulcão, um incêndio, uma guerra, uma quebra da bolsa de valores, uma explosão nuclear, um vírus, um acidente na estrada, um meteorito, um atropelamento,um azar... qualquer coisa pode acontecer e tirar tudo aquilo que você tem. Mas nenhuma dessas coisas pode tirar aquilo que você é.
Sucesso é um modo de ser, de pensar, de agir. Ser um sucesso é saber escolher a cada momento, mudar sempre naquilo que não importa, e mudar raramente naquilo que importa. Ser um sucesso é saber que a queda é parte da caminhada. Ser um sucesso é não descontar em outros as agressões recebidas. Ser um sucesso é ver-se como dono da sua vontade, escolhendo o que você diz, escolhendo o que você vai deixar para trás, escolhendo os seus compromissos.
Pode ser que você seja um grande sucesso, sem dinheiro, sem posses e sem tralhas. 
Pode ser que você seja um grande sucesso com dinheiro, com posses e com tralhas. 
No fundo, as pessoas bem sucedidas sabem que não importa o que você tem, mas quem você é. Por isso, pessoas bem sucedidas são muito mais atraentes, muito mais interessantes e têm muito mais conteúdo. Você sabe que as pessoas bem sucedidas são como taças de cristal. Você as reconhece. Diferentes das pessoas mal sucedidas (ricas ou pobres), que mais parecem copos plásticos amassados, até quando estão cobertas de jóias.
Da próxima vez que você sentir vontade em dizer que alguém é bem sucedido, ou mal sucedido, verifique se você está fazendo uma avaliação do que a pessoa é ou somente do cargo, dinheiro e produtos que ela possui. 
Da próxima vez que você sentir vontade em avaliar se aquela pessoa no espelho é bem sucedida, verifique se você está fazendo uma avaliação do que a pessoa no espelho é, ou somente do cargo, dinheiro e produtos que ela possui."
Hugo Nogueira
Gestor de Tecnologia e Informação
Masterhouse Soluções em Tecnologia

terça-feira, 30 de março de 2010

O capitalismo é moral?

Comentando o livro onde o filósofo André Comte-Sponville adverte para o perigo de transformar o mercado em religião, Oscar Pilagallo, editor da revista EntreLivros se expressa assim: "Há muita conversa, hoje em dia, sobre responsabilidade social da empresa, sobre ética empresarial, sobre moral no mundo dos negócios. O que significa isso? Numa palavra: marketing."
Segundo Sponville o capitalismo não é moral nem imoral, é amoral: “Não contem com o mercado para ser moral no lugar de vocês”, avisa. “Um sistema econômico é feito para criar riqueza. (…) O erro seria crer que baste a riqueza para fazer uma civilização ou mesmo uma sociedade humanamente aceitável. É por isso que necessitamos também do direito e da política… Não peçamos à economia para fazer as vezes deles!” Seria “a mais ridícula das tiranias, a da riqueza”, completa Comte-Sponville. Concordo com Marcelo Coelho, colunista da Folha, que é nessa menção ao ridículo e à tirania que se concentra o aspecto mais interessante do livro. O autor propõe, inspirando-se de Pascal, uma nova definição do conceito de barbárie e de seu oposto simétrico, o angelismo. Confundem-se, diz ele, ordens de natureza distinta: não se avalia a economia com os instrumentos da moral nem vice-versa.
Para o autor, lido por Oscar Pilagallo, "num momento em que a defesa da moral empresarial virou um negócio lucrativo é oportuno desconfiar do discurso que tenta camuflar o real propósito do capitalismo: gerar lucro". Faz sentido, pois não parece ser a moral que determina os preços, é a lei da oferta e da procura (quem se lembra do ridículo dos fiscais do Sarney nos anos 80?); não é a virtude que cria o valor econômico, mas sim o trabalho. Pergunta-se então: "mas a empresa não deve gerar emprego? Sim, mas só se o empregado gerar valor maior que seu salário (a mais-valia descrita por Marx). E o cliente não deve ser satisfeito? Sim, mas não é para satisfazer o cliente que se quer satisfazer o dono da empresa, o acionista; é o contrário: é para satisfazer o acionista que se quer satisfazer o cliente."
O texto deixa claro: "O capitalismo é antipático. Enriqueça. Seja egoísta. Aja segundo seus interesses. Se cada um cuidar de si, a sociedade progride economicamente. Essa é a lógica do capitalismo. Cruel e perversa. A realidade é que apenas reflete a natureza humana. Essa é a origem de sua eficácia, relativamente superior à do comunismo, tal como foi experimentado no século passado."

Um ponto alto do texto é a explicação de é o comunismo, esse sim, que tem a ver com moral, pelo menos em sua concepção. Para o comunismo triunfar seria necessário que as pessoas deixassem de ser egoístas e pusessem o interesse geral acima do interesse particular. Como isso não acontece voluntariamente, recorreu-se à coerção. O totalitarismo não seria, portanto, apenas um desvio de rota. "É assim que se passa da bela utopia marxista, no século XIX, ao horror totalitário que todos conhecem, no século XX", escreve Comte-Sponville. "O erro simpático e nefasto de Marx foi o de querer erigir a moral em economia."
O filósofo, que flertou com o comunismo na juventude dos anos 60, fala da perspectiva de um liberal de esquerda, como se define. Ele explica o que entende por isso: "Os liberais de esquerda são os que constatam o fracasso do marxismo, sem renunciar com isso a agir pela justiça (inclusive a justiça social) e pela liberdade (inclusive a liberdade econômica)".
Para Comte-Sponville, a moral numa sociedade capitalista deve ser procurada fora da esfera econômica. "Querer fazer do capitalismo uma moral seria fazer do mercado uma religião e da empresa, um ídolo. Se o mercado virasse uma religião, seria a pior de todas, a do bezerro de ouro. E a mais ridícula das tiranias, a da riqueza." Eis o perigo oculto do marketing da moral.

quarta-feira, 10 de março de 2010

A medicina na era da informação

Livro “A medicina na era da informação”, publicado pela Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA), e organizado pelos professores Zeny Duarte e Lúcio Farias, a partir do Colóquio Internacional A Medicina na Era da Informação (Medinfor), que ocorreu em 2008.

Segundo, Editora da Universidade Federal da Bahia UFBA, o livro marca o processo dialógico entre duas áreas de grande significado social, a medicina e a ciência da informação. Ambas se ocupam de importantes desafios científicos, a primeira voltada à luta pela saúde e bem-estar social, e a segunda à sustentabilidade do desenvolvimento da ciência e da cultura, por meio da preservação, organização, disseminação, acesso e uso da informação.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Feliz de ver o Plone se tornando tão importante para a gestão da informação no Brasil

Plone é uma das mais conhecidas ferramentas de gestão de conteúdo. Desenvolvido em software livre desde 2000 é baseado na plataforma python/zope e constitui uma importante base tecnológica para iniciativas pragmáticas de gestão de conhecimento nas organizações. Com o Plone pode-se desenvolver portais corporativos e também portais de internet. Meu site pessoal: www.bax.com.br usa Plone.
Como eu sempre apostei nessa tecnologia, principalmente por seguir de maneira rigorosa a filosofia do software livre, fico feliz de ver o Plone sendo reconhecido no Brasil. Selecionei abaixo três notícias sobre o lançamento do portal.gov.br em tecnologia python/zope/plone. A notícia dada pelo Baguete é a mais completa e informa sobre o valor do projeto no primeiro ano (11 milhões) e também que o portal conta com 800 mil acesso diários, tendo sido desenvolvido por uma equipe de mais de 200 pessoas.

Governo federal reformula portal de internet
iG Tecnologia
A plataforma tecnológica do portal é o Plone, sistema de gerenciamento de conteúdo desenvolvido em regime de código aberto.
Portal Brasil: R$ 11 mi na reformulação
Baguete
O novo portal utiliza o Plone, CMS de código aberto que é utilizado por empresas como eBay e Motorola, além do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, ...
Portal Brasil se reformula para atrair cidadão e projetar País
PC World
O site, que tem como base a ferramenta de código-aberto Zope Plone, também foi desenvolvido para portadores de deficiência física. ...