Minha questão é saber como o ser humano pode viver melhor, e isso só a filosofia é capaz de responder...
"
Como os gregos, nós hoje achamos que uma vida mortal bem-sucedida é melhor que ter uma imortalidade fracassada, uma vida infinita e sem sentido. Buscamos uma vida boa para quem aceita lucidamente a morte sem a ajuda de uma força superior." (Luc Ferry)

sexta-feira, 16 de março de 2012

A Arte de Viver, segundo o Frei Cláudio


Reproduzo e comento abaixo, texto retirado do blog do Frei Cláudio.


Segundo o Frei Cláudio, há os que reduzem a arte de viver a uma concepção popular do hedonismo que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana – uma espécie de felicidade subjetiva que se realiza, por exemplo, na possibilidade do consumo de bens, sejam básicos ou supérfluos.

"De fato, supõe-se acesso ao alimento, à água, saúde, educação, salário, lazer etc. Mas isso ainda não garante a felicidade. Há tantos que, sendo privados de algo essencial, ainda se julgam felizes." 


Na ética de Aristóteles, continua Frei Cláudio "tudo tende à sua própria perfeição. Alcançar esse objetivo teria a ver com virtude que - êxito nas iniciativas – resulta na felicidade. É o que pode suceder com um casal, um professor, um lavrador, um mecânico, um empresário, um médico, um administrador, um político, um líder, etc."


Conforme Aristóteles felicidade, portanto, não se reduz a um bem-estar subjetivo, mas implica o sucesso em nossos empreendimentos. Por exemplo, "a felicidade de um colecionador implica seu esforço de coletar. Isto é bem mais que o simples receber de algo já feito - pronto, completo - sem que tenha custado algum esforço".


A meditação auto-reflexiva, no sentido de busca pelo auto-conhecimento, surge então como meio para se estabelecer com maior clareza a natureza desses nossos empreendimentos, pois "a arte de viver implica deixar conduzir-se pelo objetivo intrínseco de suas atividades, o que supera algo extrínseco como dinheiro, prestígio e poder (não raro vantagens de carreirista). Pessoas internamente motivadas merecem o respeito de todos. Parecem felizes e irradiam impulsos positivos em seu meio.
Virtude é desenvolver as próprias potencialidades, o que é o primeiro dever para consigo. Aristóteles, em uma perspectiva elitista, julgava que condições indispensáveis - além do esforço pessoal – eram: muito tempo livre e um bom número de escravos. 
À potencialidade existente hão de corresponder condições favoráveis, sobretudo em casos de pessoas excepcionais. Nesse caso, cresce a responsabilidade do poder público quanto ao trabalho, alimentação, saúde, transporte, educação e lazer. A partir disso, as pessoas poderão tomar rumo.


Uma vida com êxito não depende só do esforço das pessoas e de suas escolhas. Entra o fator sorte – eudaimônia = circunstância favorável. Quanto a isso, encontramo-nos em situações bem melhores do que séculos e décadas passados. Hoje – ainda para uma minoria - quase tudo se encontra sob nosso comando, graças à ciência e tecnologia. Entram também em jogo as ‘ocasionalidades” – certos acasos (des-)favoráveis – fora de nosso controle como também vulnerabilidade, envelhecimento, enfermidade e mortalidade. Grave ilusão é querer transformar o mundo em um parque global de diversão como se tivéssemos o dever de ser felizes só no cultivo do prazer.


Ignorar a limitação humana é negar nossa condição de simples mortais. Também a morte (M. Heidegger- sein zum Tode) tem um aspecto positivo. Por mais que doença, velhice e morte sejam uma ruptura, são também o horizonte inevitável que torna a vida significativa. 
Luis Borges o ilustrou pelo conto “O Imortal”, mostrando que a morte enriquece o viver com desafios, fazendo superar indiferença, letargia, imobilidade."


Embora a vida se nos apresente como sem sentido intrínseco (todo sentido só pode ser encontrado fora daquilo a que se deseja dar sentido), vivemos buscamos sentidos para a nossa vida. Como diz o autor, "Vida é mais que sobre-vida, pois o que dá sentido ao viver é seu objetivo. Vida de qualidade vale mais que vida longa esvaziada. Carecemos de projetar nossa vida para além do horizonte atual. Não nos contentamos com nosso limitado existir; buscamos algo que nos transcenda. O direcionamento para algo diferente – um fim superior a nós - dá sentido ao viver. Todos vivemos em vista de algo fora e além de nós – ideal - como a pessoa amada, filhos, trabalho, empresa, sociedade, ciência, filosofia, espiritualidade."


Claro que nessa busca de sentido o risco que nos acompanha é o fracasso ou a perda... "Basta lembrar de adeptos de uma ideologia que não se realiza, de um amor que fracassa, de um Deus que não existe, de uma religião que não corresponde." 

Não nos envolver ou nos apegar à pessoas ou as coisas no sentido erótico (eros platônico, sentimento de falta) seria uma saída então para não sofrer perdas ou fracassos?
Continua o Frei Cláudio...  "Certo, quem não se engaja, não corre risco, não se (des-)ilude, porém leva uma vida vazia, sem ideal, desinteressante, enjoada. O estoicismo é uma alternativa, porém, enquanto preserva de perdas, não preenche o vazio. Vida sem risco é vida sem valor. Ninguém imuniza sua felicidade contra azar ou destino. Basta viver bem e, mesmo em adversidades, ter um pouco de sorte, a fim de que vida não pese demais e até adquira um sentido, embora exija um preço. Aqui, a alegria é uma oferta gratuita; ela nos pode surpreender, mesmo que não a tivéssemos em vista. Viver vale a pena. Quase sempre."

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