Minha questão é saber como o ser humano pode viver melhor, e isso só a filosofia é capaz de responder...
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Como os gregos, nós hoje achamos que uma vida mortal bem-sucedida é melhor que ter uma imortalidade fracassada, uma vida infinita e sem sentido. Buscamos uma vida boa para quem aceita lucidamente a morte sem a ajuda de uma força superior." (Luc Ferry)

domingo, 22 de maio de 2011

Como se constrói um sofisma?


Antes uma precisão sobre o termo sofisma:
A consideração mais abrangente de fenômeno sofístico impede que se mantenha a opinião exclusivamente negativa que dele existia. Parte indissociável do desenvolvimento crítico do pensamento grego em vias de amadurecimento, sem eles talvez Sócrates e Platão não seriam o que são. Ao estabelecer-se o ensino remunerado, o sofista passou a ser sobretudo o mestre que ensina profissionalmente. Mas, como os que se tinham na conta de sábios, nem sempre honravam o termo, os pitagóricos preferiram dizer-se "amigos da sabedoria" (filósofos). As denominações de sofista e filósofo se distanciaram assim.  Sofista, progressivamente, passou a ter conotação negativa. Sobretudo, a partir de Sócrates e Platão. Assim permaneceu até hoje.
Comento nesse post a entrevista abaixo dada à revista Época pelo Psicólogo americano Martin Seligman. Como o autor lembra, me parece também que os antigos, Aristóteles dentre eles, pregavam a existência de um "bem soberano". Acho que é o que Martin Seligman argumenta ser a felicidade, hoje. Ele a pensa de forma ampla, como causa de cinco sub-elementos, que juntos a causariam. Eu diria, contudo, que ele se mostra na verdade um excelente sofista. Me explico, perguntando: o que ele chama de "Emoções Positivas" seria, para quem, a felicidade?
Claro que a felicidade deve ser um fenômeno com causas bem mais complexas do que "Emoções Positivas". Quem acreditaria em algo diferente?
A felicidade é o resultado de uma mistura dos elementos apontados por ele, e talvez muitos outros ainda. Assim, para mim, o autor apenas jogou com as palavras. Inverteu-lhes a ordem causal. Ele diz: "emoções positivas que entendemos como felicidade são só uma das cinco maneiras de ter uma vida melhor". Eu pergunto: quem considera "Emoções Positivas" o mesmo que felicidade? talvez apenas ele, falsamente embora fortemente, para fazer-lhe acreditar no mesmo.
O segredo da técnica é o seguinte: o sofista inicia dizendo-lhe logo de início que você acredita que "Emoções Positivas" é o que você mesmo toma por felicidade; e você, lendo acriticamente, acredita nisso, não questiona. Você não elabora sua própria opinião, então aceita a afirmação como uma premissa. Mas você não percebe que trata-se de uma premissa falsa.
Vejamos o silogismo: “Se A então B”. Como você acredita, sem questionar, “A”, porque lhe foi dito como verdade, então “B” só pode ser também verdade! Dessa forma o sofista logra sutilmente convencer-lhe de algo em que você mesmo não acreditava antes. Ele consegue vender-lhe o peixe o fazendo acreditar que a sua noção original de felicidade era realmente bem precária. Que cabe a ele, então, lhe explicar o que é a felicidade. Mas é isso mesmo? 
Nesse cenário, tudo o que ele escreve, e que você lê, passa a lhe parecer revelador. Interessante, não é?
Na antiguidade, quando a retórica importava muitíssimo, os sofistas detinham várias dessas artimanhas. Hoje, sem tempo para aprofundar o entendimento do que se lê (transformando informação em conhecimento), é-se novamente e frequentemente vítima deles. 
Carecemos talvez de um novo Sócrates ou de um novo Platão, para nos defender da má literatura, da pseudo-ciência. É divertido imaginar que esse novo Sócrates não perambula mais pelas ruas, iluminando ("pervertendo") jovens. Hoje ele navega na Web, poço enorme de bobagens e maravilhas e, em seu blog, denuncia sabichões. 
Segue parte da entrevista abaixo.


Martin Seligman: “Perseguir só a felicidade é enganoso”
Psicólogo americano afirma que a felicidade está supervalorizada: ela é só um dos cinco caminhos para o bem-estar
Letícia Sorg
Martin Seligman ficou conhecido como “doutor felicidade” depois de estudar, por mais de 20 anos, como é possível ser mais feliz e de lançar livros como Felicidade Autêntica (2002). Hoje, o psicólogo nega o título ao afirmar que, mais importante do que ser feliz é viver bem. Em seu novo livro, Flourish (Florescer), o especialista desenvolve a teoria do florescimento ou bem-estar, que diz que as emoções positivas que entendemos como felicidade são só uma das cinco maneiras de ter uma vida melhor. Nesta entrevista a ÉPOCA, Seligman, que é professor da Universidade da Pensilvânia e já presidiu a Associação Americana da Psicologia, fala sobre a busca por uma vida melhor. Florescer deve ser lançado em português pela editora Objetiva em outubro, quando o psicólogo vem ao Brasil para um evento a convite de Patrícia Carlos de Andrade, aluna de Seligman no mestrado em Psicologia Positiva Aplicada e presidente do Instituto Millenium.
ÉPOCA - Por que o senhor decidiu escrever Flourish?
Martin Seligman –
Não decidi escrever esse livro. Eu estava com a minha família em Santorini, na Itália, e estava muito quente. Quente demais para mim. Então fiquei preso em uma sala com ar condicionado por sete dias, há dois verões. Decidi, então, escrever sobre como meus pensamentos haviam mudado desde o último livro, oito anos atrás. Depois de escrever as primeiras partes, descobri que aquilo poderia ser um novo livro. Havia escrito quase tudo só para mim mesmo antes de falar com minha agente e a editora. Foi um exercício para mim mesmo para ver o que eu pensava.
ÉPOCA - Nesse novo livro, o senhor relativiza a importância da felicidade, que era um conceito central em suas obras anteriores. O senhor está renegando seu próprio trabalho?
Seligman –
Minha ciência sempre foi um trabalho em construção. Não penso que esteja negando, apenas corrigindo, ampliando, ajustando o que fiz antes. Renegar é uma palavras forte demais, já que fazer ciência é mudar de ideia.
ÉPOCA - Qual foi a principal mudança?
Seligman –
Meu interesse inicial era saber o que as pessoas fazem por vontade própria, sem serem forçadas. O que pensava dez anos atrás era parecido com o que Aristóteles disse: que havia um único objetivo final e que qualquer coisa que as pessoas fizessem era para aumentar sua felicidade. Mas me convenci de que a felicidade é só um dos fatores, o fator “emoções positivas”. Muitas vezes tomamos decisões que trazem sentido para a vida, mas geram menos felicidade. Outras vezes escolhemos manter certas relações que não têm efeito nenhum na felicidade. Se você pensar num avião, não há um número único que diga como está aquele avião. É preciso olhar o painel todo, checar a altitude, a velocidade, o nível de combustível, a temperatura do óleo. Dependendo da sua missão, é preciso tomar conta de todo o painel. De maneira semelhante, os humanos são muito complicados e não dependem de um único fator. Há pelo menos cinco fatores que fazemos por nós mesmos, cinco caminhos possíveis, e não um único objetivo de vida. Deixar de entender a felicidade ou as emoções positivas como o objetivo final comum, como o único fator em que as pessoas baseiam suas escolhas, é a principal mudança. A teoria do florescimento é muito mais ampla do que a da felicidade.
ÉPOCA - Quais são os cinco fatores?
Seligman –
São: emoções positivas, engajamento, relacionamentos positivos, propósito e realização [as iniciais dos cinco elementos em inglês formam o acrônimo Perma, usado por Seligman para resumir a teoria do florescimento].
ÉPOCA - Não é o caso de revermos o conceito que temos de felicidade, em vez de criar um novo conceito?
Seligman –
É preciso restringir o conceito de felicidade. Sou a favor de risos, de bom humor, mas são só parte do que leva as pessoas a agir. Não precisamos repensar, mas restringir o alcance da felicidade. É comum, por exemplo, ouvir pais dizerem: “Só quero que meus filhos sejam felizes”. Isso é uma tolice. Quero que meus filhos sejam felizes, mas quero que eles gostem de fazer algo, que tenham bons relacionamentos, que encontrem um sentido e um propósito e que conquistem coisas. Perseguir só a felicidade é enganoso. Não que eu seja contra a carinha sorridente perpetuada por Hollywood, mas as emoções positivas são apenas um dos elementos.

Bem, a entrevista continua, mas a resolvi corta-la aqui... realmente não vale a pena ler tanta besteira.

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